Mato e morro nas minhas rimas, um suicídio ocasional. Me jogo ao acaso, respiro poesia, derrapo nas curvas de cada letra e me estaciono em cada ponto final, apreciando a paz conquistada ou angústia obtida no processo. Escrevo em qualquer lugar: nas sacolas de padaria, nas bordas de uma folha amassada, nas paredes do meu quarto, na minha própria carne. Escrevo porque é tudo que tenho, porque é tudo que sou. Romantizo o meu sufoco pra tentar algum alívio, tudo que eu quero é respirar. Escrevo cada linha com a intenção de que seja a última, fugindo de cada ideia que nasce no fundo do meu ser. Escrevo sobre guerra porque é necessário, escrevo sobre mim porque sou o que conheço melhor (apesar de não tão bem assim), escrevo sobre os outros porque é o que me fascina, escrevo sobre amor porque transbordo, porque é tudo que há. Porque é o que me resta.
Escrevo no imperativo para tentar escutar a mim mesma e a subjetividade é pra alimentar o que está faminto dentro do meu corpo. Escrevo porque é a única coisa que sei fazer, porque sem isso eu morro afogada, porque não sei gritar se não for através do papel. Desabafo minhas fantasias numa folha em branco passiva, violento-me com cenas e cenários, danço com meu alter-ego e mergulho em um universo sem saída. Nunca encontro o caminho de volta, mesmo tentando incansavelmente. Eu lhe pertenço; quando me perco de mim mesma, minha única chance está ali.
A poesia é que me mantém viva quando me falta o ar: a minha e a dos outros. Principalmente a dos outros. Sou viciada em arte alheia e a minha droga está por todos os cantos. Queria conseguir injetá-la em meu sangue, senti-la correr nas minhas veias, tomando meu corpo, sendo parte de mim. Gosto de me misturar a eles, de ser parte deles, de me autodenominar artista. Com um orgulho rasgado e gritado por aí.
Não tenho rumo, se me vêem nas ruas e pensam que sei o que estou fazendo, estão enganados. Eu não faço ideia. Ando em cada esquina tentando me afirmar, me encontrar, perguntando mais que respondendo. Sei pouco do que quero e muito do que não quero, não sei lidar com a maioria das minhas questões e sou prisioneira dos meus velhos hábitos. Eu sou saudade, sou a dúvida, sou o caos; sou minhas rimas estampadas nos muros da cidade. A arte é o que me resta, a arte é o que me salva.
Intensa é a palavra que mais te define. Amo vc! Do jeitinho que vc é!
Gostei, me lembrou a letra de “Mal Secreto”, clássico de Macalé e Wally Salomão imortalizado em uma gravação dos anos 70 feita pela Gal Costa, abç.
Não choro
Meu segredo é que sou
Rapaz esforçado
Fico parado, calado, quieto
Não corro
Não choro
Não converso
Massacro meu medo
Mascaro minha dor
Já sei sofrer
Não preciso de gente
Que me oriente
Se você me pergunta:
Como vai?
Respondo sempre igual:
Tudo legal
Mas quando você vai embora
Movo meu rosto do espelho
Minha alma chora
Vejo o Rio de Janeiro
Comovo, não saldo, não mudo
Meu sujo olho vermelho
Não fico parado
Não fico calado
Não fico quieto
Corro, choro, converso e tudo mais
Jogo num verso
Intitulado o mal secreto